Ativação do Lobo Frontal e seu Papel na Depressão, Ansiedade e Euforia

Durante todo o tempo em que tenho trabalhado com neurofeedback (desde 2007) e, recentemente, pesquisando e colaborando em ensaios clínicos usando Estimulação Transcraniana de Corrente Contínua (ETCC ou, do inglês TDCS – Transcranial Direct Current Stimulation) tenho ouvido e falado muito sobre “inversões” e “assimetrias” cerebral, assim como suas relações com sintomas de ansiedade, euforia e depressão.
Então resolvi escrever esse post sobre o conceito da assimetria do lobo frontal, com base nos padrões neurofisiológicos, do impacto desses achados na compreensão do comportamento e emoções humanas e como o treinador de neurofeedback usa esse conceito para o treinamento cerebral dos pacientes.
O lobo frontal tem dois hemisférios ou “partes” (direito e esquerdo) e a relação entre eles e a regulação emocional tem sido explorada por diversos autores. Davidson e Irwin, em 1999, descreveram o sistema motivacional do cérebro, sendo inicialmente proposto que o sistema de “aproximação” (approaching*) é responsável por gerar afetos positivos e comportamentos relacionados a aproximação de metas, e o sistema de evitação (withdrawal*) atua facilitando o comportamento de evitar estímulos aversivos e as reações às ameaças, estando ligado à produção de afetos negativos como nojo e medo. A região pré-frontal e a amigdala (parte subcortical, que não é possível de ser visualizada na imagem a seguir) são indicados como os componentes chaves desse circuito.

O conceito principal é de que o hemisfério frontal esquerdo é mais ativado que o hemisfério direito e essa diferença de ativação está ligado ao adequado funcionamento das habilidades cerebrais, do ponto de vista cognitivo, emocional e da produção do comportamento (Para entender melhor sobre aspectos não emocionais dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro, acesse o link para o post de uma colega em: http://julyneuro.wordpress.com/2013/07/18/as-assimetrias-cerebrais-parte-ii/. Esse post vai se focar principalmente nos aspectos motivacionais).
Sendo assim, quando há inversão nesse padrão de assimetria, sintomas de depressão e/ ou ansiedade e euforia podem ser observados. Quando o hemisfério esquerdo não está “dominante” (mais ativado), tem-se verificado que a dominância direita está associada à depressão. Do modo contrário, quando o hemisfério direito não está adequadamente balanceado, deixando o hemisfério esquerdo excessivamente dominante, observa-se a manifestação da euforia. Esses padrões de dominância podem ser observados através das predominância e do poder das ondas alfa e beta em regiões contra-laterais do cérebro (direita-esqueda), e estão relacionados ao traço eufórico/ depressivo, mesmo quando o sujeito não está manifestando esses estado. Ou seja, uma pessoa com predominância do hemisfério direito pode apresentar um padrão comportamental de evitação mesmo que ela não esteja deprimida naquele momento. Os níveis de cortisol (hormônio esteroide produzido em resposta a situação de estresse) também estão relacionados com as inversões, mais precisamente com predominância direita.
Mais recentemente alguns autores têm sugerido que as assimetrias frontais estão mais ligadas ao comportamento manifesto (aproximação e evitação) do que à valência (afeto positivo e negativo). Um exemplo é quando alguém, sob o efeito do sentimento negativo de raiva, inicia uma briga (comportamento de aproximação). Esse padrão tem sido relacionado ao excesso de ativação do hemisfério esquerdo (aproximação) e não direito.
Investigações de outras regiões cerebrais envolvidas na regulação da emoção e comportamento usando a técnica de EEG sugerem que a região posterior do cérebro está mais relacionada com a percepção da valência positiva e negativa, sendo que padrões de assimetria também são investigadas nessa região. Em outras palavras, a região parietal do cérebro (ver imagem) está associada a percepção emocional, sendo que a onda alfa parece ser importante tanto para a percepção de emoções positivas quanto negativas, tanto em adultos quanto em crianças.
Qual o papel do neurofeedback em relação as inversões?
O neurofeedback é uma técnica que acessa o padrão de ativação do cérebro através do EEG e permite comparar os padrões de ativação de cada região, analisando-se quais faixas de ondas estão dominantes em determinadas regiões. Diferentes treinos podem ser aplicados para a alteração do padrão invertido e reestabelecimento da assimetria adequada. O treino “típico” de inversões frontal reforça a relação entre as ondas beta e alfa através de estímulos auditivos e visuais. Assim, o cérebro é treinado a mudar a relação entre esses padrões de ondas, deixando o hemisfério esquerdo do lobo frontal levemente mais dominante. Já quando a inversão é observada no lobo parietal, a tendência é o reforço para aumento da produção de alfa no hemisfério direito.
Fontes consultadas:
Harmon-Jones, E., Gable, P. A., & Peterson, C. K. (2010). The role of asymmetric frontal cortical activity in emotion-related phenomena: A review and update.Biological psychology84(3), 451-462.
Davidson, R. J. (2002). Anxiety and affective style: role of prefrontal cortex and amygdala. Biological psychiatry51(1), 68-80.
* tradução livre.

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